domingo, 1 de junho de 2025

 ORAÇÃO DOS QUE NÃO SABEM REZAR


Senhor…!
Que estas palavras, que não dizem tudo,
Possam chegar um dia aos ouvidos Teus.
Chegar como quem chega sem bater à porta…
Sem roupa nova, sem nenhum requinte
E sem mesmo saber como chegou…!

Que o ódio seja extinto pela paz,
Que haja compreensão e tolerância,
Que os povos se entendam como irmãos.
E que no coração da criatura humana,
Pleno de equilíbrio e de harmonia,
Viceje a planta da Fraternidade…!

Senhor…!
Que estas palavras, que não dizem tudo,
Possam transpor os mundos no infinito,
Levando o apelo mudo dos aflitos,
Os gemidos de dor dos desgraçados,
O remorso dos maus, e dos bons o perdão…
E a ânsia oculta, da espécie humana,
De atingir, sem saber como, a perfeição…!

Escuta-as, Senhor…!
São palavras que não foram decoradas,
Não foram feitas apenas para os lábios.
Mensagem de pureza, que mais é um clamor,
Dos que não sabem dizer, dos que não podem falar,
Dos que só sabem sofrer, dos que só sabem sentir,
Dos que só sabem esperar…
Esta é a Oração dos que não sabem rezar.

Newton Rossi 
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domingo, 3 de novembro de 2024

 Um dia de chuva para me deixar feliz

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

 Olavo Bilac – O Pássaro Cativo

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Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi…
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas…
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade…
Quero voar! voar!…”

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

Olavo Bilac – Poesias Infantis

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

 

O Noivado do Sepulcro

Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda,
Responde um eco suspirando além...
- "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
- "Oh vejo sim... recordação fatal!
- "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Soares de Passos, in 'Antologia Poética'

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

             

No meu jardim florido de saudade

que rego com as lágrimas que caem



domingo, 3 de dezembro de 2023

                                           DEVANEIOS

Um olhar pro céu eu lanço

nas ondas do mar balanço

As nuvens n'um vai e vem

são tantas de várias cores

todas como meus amores

que não conto pra ninguém

Deitado sobre a areia

eu não me sinto sereia

pois só quero me embalar

nas ondas do mar revolto

eu me sinto leve e solto

para poder devanear

Eu escuto melodia

de tristeza e alegria

e começo adormecer

ah!sonho tão doce e puro

que pra você até juro

tudo pode acontecer

Devaneio é ilusão

ele vem do coração

mas,você pode acordar

tentando salvar o mundo

com a paz sem guerrear.

sábado, 2 de dezembro de 2023

O Diário de um Passado

 Não me culpem, eu sou mesmo assim

coração cansado de tantos amores

talvez você já se esqueceu de mim

mas continuo lhe mandando flores

Eu sei que um dia a tempestade forte

levou pra sempre as minhas paixões

fiquei sozinho esperando a morte

só com as lembraças e as emoções

Pousastes as mãos em meu peito fraco

pois a velhice me consome a vida

eu só queria da vida um grande naco

voltar atras nesta grande lida

Ainda guardo essa linda paixão

 sentindo o cheiro da mulher amada

pois amar arrebenta o coração

é andar a pé numa longa estrada

Oh, juventude por que me abandonastes ?

tu me deixaste nos braços da amargura

estou velho me sentindo como um traste

já ando perto de baixar à sepultura

A mente pede o corpo não responde

o desejo da minha mocidade

tenho um morto que agora a calça esconde

morrerei velho sem perder a vaidade.

memb.