quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O CANTOR E A CANÇÃO

O luar de Nisan bordava a paisagem com pingentes de prata e uma aragem fresca varria a noite silenciosa.
Emudecera Jesus a celeste canção, Sua oração sacerdotal.
Demoravam-se no quadrado da sala as modulações musicais da Sua voz.
A hora chegara. A hora para a qual viera.
Há pouco cingira-se com uma toalha e exemplificara a culminante lição da humanidade, lavando os pés dos discípulos.
O Filho do Homem fazia-se o menor de todos para ensinar mais uma vez a grandeza sublime do amor - a razão da Sua vinda ao seio dos homens!
As emoções estalavam lágrimas nos olhos dos companheiros,lágrimas que não se atreviam a correr. Todos estavam com o espírito e o coração túmidos de expectativas, angustiantes expectativas.Aquela fora uma ceia de despedida...
Viveram quase três anos com Ele e todavia não O conheceram devidamente. Mais se agigantara naqueles últimos dias, especialmente a partir do momento em que, montado no jumento, Ele varara a Porta Dourada, entrando na cidade. As homenagens com que O receberam muitos que ali se aglutinaram pareciam entristece-Lo...
Agora a Sua canção se erguia e morria nas lembranças de todos, a inolvidável oração sacerdotal que Ele proferira após a ceia pascal, a derradeira daquele ciclo.
Despedira-se dos companheiros há poucos minutos e logo depois falara ao Pai em sublime solilóquio, não obstante a presença deles:
" Pai, é chegada a hora. Glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a Ti. Assim como lhe deste poder sobre toda a Humanidade, a fim de que ele conceda vida eterna a todos aqueles que Tu lhe tens dado... A vida eterna, porém, é esta: que conhece a Ti... Único, verdadeiro Deus e a Jesus Cristo aquele que enviaste. Eu te glorificarei na terra. cumprindo a obra que me tens dado para fazer. Agora glorifica-me Tu, pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de Ti, antes que houvesse mundo."


do livro : Luz do Mundo
Divaldo Pereira Franco

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