Aquele fim de Maio estava ardente,fenómeno comum naquela quadra do ano.Logo o Astro-Rei fazia incidir diretamente o seu facho de luz,calor asfixiante atormentava, desafiador.
Ao longe, as encostas do Galaad,com revérberos de cobre luzido vencendo as brumas secas, são muralhas naturais e altaneiras na paisagem fronteiriça ao lago.
Àquela hora,porém,soprava uma brisa amena, diluindo as névoas da madrugada, enquanto albatrozes e pelicanos se demoram sobre as pedras negras que se adentram pelas águas piscosaa com reflexos de prata.
Nos dias anteriores aquela voz ecoara pelas regiões ribeirinhas como um canto de esperança, em cuja melodia as concessões do amor divino eram ouvidos dos homens sofredores.
Todos. portanto, necessitados e curiosos, desejavam vê-lo de perto e receberam o benefício que Suas mãos esparziam em abundância.
A Natureza estava calma e as ansiedades vibravam nos corações.
A noite fora longa e infrutífera.
Eles estiveram por todas as horas a atirar as redes e recolhê-las vazias.As águas generosas também tinham seus caprichos. Aquela era uma noite de cansaço e desaire.
Sem luar os barcos encalhavam nos bancos de areia e todo o esforço daqueles homens ofegantes redundara improfícuo.
Retornavam aos penates do dia, corpos moídos, alhos ardendo, modorrentos e mal humorados...
O magote humano na praia parecia um borrão colorido e móvel, contrastando com as areias alvas.
Duas barcas foram deixadas vazias e as redes começaram a ser distendidas nas varas de sustentação da praia.
... Enquanto numa delas em que se encontrava Simão, o seu proprietário, falou, um pouco mais ao povo expectante.
Seu verbo de luz clarificava as consciências inquietas e asserenava os espíritos em turbulência.
Sua silhueta de braços abertos bordada de ouro no contraste com o dia fulgurante, parecia a de uma ave sublime que estivesse prestes a alçar voo buscando rumos ignotos.
Depois de haver consolado o povo que o buscara, voltou-se para Simão e disse:
- " Faze-te ao largo e lança as redes para a pesca ".
- Mas retornamos de lá, agora, Senhor, sem nada conseguir.
- Não recalcitres, Simão.
A barca desliza cantando sobre a crista das ondas levemente encrespadas, e, ao ritmo do vento que perpassa e inflama as velas coloridas, se distancia, avançando com celeridade.
- Recolhe os panos - ordena, gentil, - e atira as redes.
Ai estivemos até o cansaço; nossos esforços redundaram inúteis. " Porém, sobre a tua palavra lançarei as redes".
As redes imensas em forma de tarrafas circulares,com chumbos amarrados às pontas, se abrem no ar em leque formoso e batem sobre as águas, mergulhando as malhas resistentes, desenroladas dos braços vigorosos que sustinham.
Logo puxadas se apresentam abarrotadas, quase arrebentando a tecedura forte.
O espanto, a algaravia e a explosão de júbilo dos homens espoucam em alacridade infantil.
A carga abundante é levada para bordo e a barca próxima é chamada, aos gritos, em socorro...
Na popa, recortando o disco solar esfuziante, o Mestre contempla aqueles homens de alma infantil, crestados pelas lutas diárias, inundados de alegria, emocionados até o pranto.
Aquele homem no entanto, donde o conhecia?
- refletiu num átimo, vencido pela força daquela voz que ordenava sem impor e ninguém desconsiderava, e daquela face... - Ele lhe parecia tão fraco e era tão forte! Não sendo um pescador, como soubera e pudera tanto?!"
- "Simão, não temas; de ora em diante serás pescador de Homens."
do livro Luz do Mundo
Divaldo Pereira Franco.
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